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sábado, 24 de julho de 2010

Uma ideia infeliz

Há quem queira mexer na Constituição do Brasil para escrever a palavra felicidade no seu texto. Mas não a quer no art 5º, como o direito de cada um buscar a felicidade ao seu modo, sob proteção do Estado. Nada disso. A proposta de emenda que corre no Senado é enfiar a felicidade social no art. 6º, como a grande finalidade do Estado.

O que quer que seja felicidade social, sua busca não deve ser a finalidade do Estado. Quem ficaria seguro em um Estado que usa toda sua força na procura da sua própria felicidade. O Estado deve proteger os direitos individuais e elaborar políticas eficientes para garantir a todos os brasileiros os direitos sociais que já constam do artigo 6º: educação, alimentação, moradia, emprego, etc.

E deixe que cada um procure a sua felicidade. Ou não, pois acredito que tem muita gente buscando coisas mais importantes que a felicidade. Como Confúcio, que não procurava a felicidade, mas ser digno de ser feliz. Ou como Vinícius, que procurou o amor a vida inteira, mesmo sabendo de todo sofrimento que viria junto. Ou como Mandela, que passou 30 anos na prisão perseguindo o sonho de uma África do Sul livre do Apartheid. Ou como Sócrates, que preferiu beber cicuta a abdicar do que entendeu ser sua missão: criticar, mesmo os mais poderosos de sua cidade, para que pudessem melhorar.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Invictus, de John Carlin



Entrei na livraria pra espiar. Não queria comprar nada. Já tenho muitos livros, e um vasto programa de leitura que talvez possa cumprir se chegar bem aos noventa anos.

O primeiro livro que me chamou a atenção foi Invictus, de John Carlin. Tinha visto o filme, que narra uma história maravilhosa até então pouco conhecida. Seu lançamento antes da Copa do Mundo de Futebol atraiu de um jeito especial a atenção do público para a Copa e para a África do Sul. O que aconteceu na África do Sul é um exemplo e uma esperança para um mundo que vive tantos conflitos sangrentos comodamente tachados de insolúveis. Um mundo em que a intolerância é um virus presente em todos os lugares, não apenas naqueles em que suas manifestações são mais visíveis e mortais.
Por isso peguei o livro. Também por um motivo particular. O filme Invictos tinha me ensinado a história e me dado a exata noção da importância global daqueles acontecimentos. Mas, estranhamente, não foi um filme arrebatador. Daqueles que devastam todas as camadas do ego e me transportam para o centro dos acontecimentos. Não, assisti Invictos com um certo distanciamento. E o filme foi dirigido por Clint Eastwood, que já provocou aquele efeito arrebatador diversas vezes em mim (Menina de Ouro, Gran Torino, A Troca).

Então abri o livro e comecei a ler a introdução. A emoção foi quase imediata, mesmo em pé em uma livraria o distanciamento não durou até o fim do segundo parágrafo. Logo meus olhos se encheram de lágrimas e assim permaneceram até o fim da introdução. Terminada a introdução, me refiz e trouxe o livro pra ler em casa. Que programa de leitura que nada!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Balanço da Copa do Mundo de Futebol de 2010

Os mal humorados que me perdoem, mas eu adorei esta copa na África, e desconfio que vou gostar mais ainda da próxima, no Brasil. O esmero na organização e a qualidade das transmissões fazem da copa do mundo um espetáculo de beleza imperdível, que aproxima todos os fãs do futebol de cada detalhe dos jogos, dos gols, dos jogadores e das torcidas.

Jabulani e Vuvuzelas
Mesmo não faltando, desde o início da copa, imagens de jogos emocionantes, a bola e as cornetas foram as primeiras grandes estrelas. Muito do seu sucesso se deve ao atrativo dos nomes africanos: Jabulani, Vuvuzela. Mas a Jabulani era, sim, como aliás as bolas das últimas copas, uma bola caprichosa, imprevisível e exigente. Para a próxima copa a Fifa deveria encomendar uma bola mais tradicional e obediente, fácil de controlar. Seu nome? Amélia, é claro. Quanto às vuvuzelas vvvvvvuuu!!! (leia um tratado sobre a vuvuzela postado pelo blog Uma Copa, Dois Mundos clicando aqui

Tecnologia
Dois erros grosseiros de arbitragem nas oitavas de final foram responsáveis por uma substituição inusitada: saem, Vuvuzela e Jabulani; entra, Tecnologia. Em sites, blogs e twiters proliferaram discussões inflamadas contra e a favor do uso dessa senhora, a Tecnologia, nas arbitragens. Não a defendo como salvadora do esporte bretão, que vai muito bem, nem a condeno como capaz de descaracterizá-lo. Talvez, principalmente em consideração aos árbitros, deva ser incluído um juiz auxiliar que veja o jogo pela televisão e oriente o juiz para corrigir erros grosseiros como o gol não marcado para a Inglaterra contra a Alemanha e o gol marcado em impedimento gritante pela Argentina contra o México. Sinceramente, minha opinião é que isso não vai mudar muita coisa no futebol. Culpar os árbitros pelas derrotas é quase tão ridículo quanto culpar a bola ou as cornetas.

Brasil
Fiquei muito triste com a eliminação do Brasil pela Holanda. Sou fã incondicional da Seleção do mesmo modo que sou fã incondicional do Botafogo. Como em quase todas as copas do mundo, o Brasil levou uma ótima seleção, com nossos melhores jogadores muito bem treinados pelo Dunga e pelo Jorginho. Mas a Copa do Mundo é o mais disputado evento do futebol. Ao contrário do que se fala e repete, a Seleção Brasileira não tem obrigação de ser campeã, ou de ficar entre as semifinalistas ou finalistas. Muito menos tem obrigação de jogar bonito. Mesmo jogando melhor (e mais bonito), perdemos nas quartas de final para a Holanda. Isto é futebol. Isto é Copa do Mundo. Em 2014 a copa será no Brasil, e é bom que saibamos que a função do país sede é organizar um grande evento e uma bela festa. A Seleção será, como sempre, uma forte candidata ao título, mas não tem qualquer obrigação em relação a resultados.

Os gols da Seleção Brasileira
Cada um dos nove gols da Seleção Brasileira é uma obra de arte independente. Não foram gols achados por acaso, por insistência e em erros dos adversários. Foram gols esculpidos, em que o apreciador reconhece a assinatura do futebol de classe. Como de costume, também há pelo menos um quase gol memorável: Robinho entorta os tanques holandeses pela esquerda, passa para Luis Fabiano, que toca de calcanhar pra Kaká chutar buscando o ângulo direito; o goleiraço holandês voa para evitar o segundo gol do Brasil.

O Descontrole
Houve sim, por parte de alguns. Basta ver algumas reações do Dunga, do Robinho, do Felipe Melo e do Kaká, não só no jogo contra a Holanda. Mas, claro, não dá pra dizer que o descontrole foi a causa de não termos ganho a Copa. Temos que aceitar que podemos perder, como podemos ganhar. Muitas vezes o descontrole acontece quando entramos em um jogo só aceitando a vitória como resultado. Não se deve confundir garra e vontade de vencer com o desespero para vencer, que tira a concentração do jogo e pode até levar à desistência. Os jogadores e a comissão técnica de qualquer time devem ter em mente que seus jogos não são vistos somente por seus torcedores, mas por milhões de espectadores que não estão interessados em brigas e discussões entre jogadores e juízes.

A Alemanha
Jogo em equipe, talentos individuais, juventude e experiência, excelente goleiro, boa qualidade na defesa, no meio de campo e no ataque, preparo e vontade de vencer, sem querer ganhar a qualquer custo. Esta seleção alemã e suas goleadas encantaram o mundo.

Os Jogaços
Pela emoção, pela qualidade, pelo inusitado, ou por tudo isso junto, listo alguns jogaços da Copa do Mundo. Na fase de grupos: Eslováquia 3 x 2 Itália. Nas oitavas de final: Alemanha 4x1 Inglaterra, Brasil 3x0 Chile. Todos os oito jogos das quartas de final em diante foram jogaços, sendo difícil destacar apenas alguns.

Viva a Espanha!
A primeira Copa do Mundo vencida pela Espanha deu à Copa da África um sabor especial. E a seleção espanhola jogou bonito, com um ótimo goleiro, uma ótima defesa, toque de bola no meio campo e busca incessante do gol e da vitória. Alguns lembrarão que a Espanha ganhou apenas de 1x0 nas oitavas, nas quartas, na semi-final e na final. E quem disse que a vitória por 1x0 não pode ser fantástica? Chega de comparar futebol com basquete! Estes quatro jogos foram dramáticos, com a  Espanha buscando o gol o jogo inteiro e sempre chegando perto, muito perto, sem alcançá-lo, até que... sempre no segundo tempo, inesperadamente, aparecia o gol salvador, provocando uma explosão de alegria. Na final, essa estética atingiu o ápice, com o gol no final da prorrogação, depois de um passe errado do Torres, que era a esperança de gols da Espanha antes da Copa.