AVALIE, COMENTE, CRITIQUE; QUERO SABER SUA OPINIÃO

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Meia-noite em Paris, de Woody Allen

Woody Allen está no auge. Nos últimos anos, tenho ido ao cinema ver filmes excelentes dele. Scoop – o grande furo (2006); O sonho de Cassandra (2007); Vicky, Cristina, Barcelona (2008); Tudo pode dar certo (2009); mas talvez Meia-noite em Paris, deste ano, seja o melhor.

Um homem que sonha é um inconformado; às vezes inseguro diante da realidade, mas um inconformado. Gil Pender é esse tipo. Insatisfeito com seu trabalho e cercado por pessoas que não o entendem, ele encontra na Paris de hoje um calhambeque que toda meia-noite o leva à Paris dos anos 20, onde se encontra em festas e bares com seus ídolos – Cole Poter, Ernest Hemingway, Buñuel, Dali, Pablo Picasso.

As férias em Paris com a noiva e os sogros se divide entre fantasia e realidade, passado e presente. Entre o que Gil é e sonha, e o que ele aceita e vive. Mas fantasia não é só fuga, ela lentamente move a realidade. Quem ousou sonhar não aceita mais qualquer presente.

E os sonhos também se esgotam. Chega o tempo em que a fantasia já não é o suficiente. Em suas aventuras noturnas, Gil tem uma pequena iluminação: o passado não foi tão perfeito para quem o viveu na realidade presente. Se o Gil Pender real quer sonhar, o sonhador vai querer acordar e (mesmo com medo da rejeição, do fracasso, da dor, da morte) arriscar a viver. Neste ponto insondável – a vida real – o filme não é mais possível. Toda a arte se cala.

Pender – Achei no dictionary.com que pend, em inglês, significa to remain undecided or unsettled; to hang. Daí pêndulo. O personagem, Gil Pender, é esse pêndulo indeciso, que movimenta o filme suavemente de lá pra cá, entre uma Paris diurna com sua noiva, os amigos da noiva e seus sogros pragmáticos, e a Paris noturna de sonhos com os artistas que fizeram dela uma festa nos anos 20. Pender também lembra tender, uma palavra mais comum na língua inglesa, que significa afetuoso, delicado, sentimental. Gil Pender também é assim, justamente por pender, por estar indeciso, inseguro, fora de lugar; e é esta característica que cativa Adriana, uma linda mulher do passado, amada por grandes artistas como Picasso, Hemingway e Matisse.