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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Insista!

Toda a filosofia de Karl Popper, considerado um dos filósofos mais importante do século XX, parte da ideia simples de que podemos aprender com nossos erros. Com essa ideia central, ele desenvolveu sua filosofia da ciência, exposta no livro Lógica da Pesquisa Científica, e sua defesa da democracia contra os regimes autoritários, no antológico A Sociedade Aberta e Seus Inimigos, publicado depois da 2ª Guerra Mundial.

Podemos aprender com nossos erros. Note: podemos aprender, mas não aprendemos necessariamente com os nossos erros. Podemos também, e normalmente o fazemos, nos agarrar dogmaticamente às nossas ideias e ações, reagindo às críticas e a qualquer insinuação de que possamos estar errados.

Podemos aprender com nossos erros. Aliás, só podemos aprender com os nossos erros. Quando tentamos qualquer coisa, podemos acertar de primeira por sorte; mas não aprendemos, e vamos errar em novas tentativas. Podemos acertar de primeira alguma coisa tão simples que já sabíamos, como gritar, mas isso também não é aprender. E, finalmente, podemos errar com a convicção de estarmos certos; nesse caso, além de errar, não vamos aprender enquanto durar nossa arrogância.

Podemos aprender com nossos erros. Essa ideia central, que Karl Popper usou para desenvolver sua filosofia, também serve para lançarmos um olhar mais compassivo para os outros e para nós mesmos.

Podemos aprender com nossos erros. Portanto, não se desespere nem se envergonhe de seus tropeços, dos caminhos equivocados, da falta de jeito, das grandes e das pequenas dificuldades. É normal, é humano. Perdoemo-nos uns aos outros nossas bobagens.  A boa notícia é que podemos ir além de nós mesmo, além de nossas capacidades, se nos dispusermos a aprender com nossos erros. Portanto, não desista; insista.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A paisagem da vida e nós

A paisagem da vida é estupenda e bela. Mas, para os estabanados construtores dessa paisagem (nós), viver é quase sempre conflito e sofrimento.

Somos todos falíveis, o caminho de cada um é feito de tentativas, erros, aprendizagem, novas tentativas, novos erros e novas descobertas. Desejo diluído em dúvida e medo.

Por isso a lei entre os homens não é julgar uns aos outros (nem a si mesmo), mas amar uns aos outros (e a si mesmo).

Erramos o tempo todo; mas de repente, aqui e ali, de tanto tentar e corrigir, mesmo sem saber, também acertamos.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Aposentadoria

Outros que entrem no mar agitado

Furem ondas
Peguem jacarés
Descubram ilhas virgens

Meu tempo passou

Quero calmamente descansar

Da areia
Na sombra
Com meu pijama
Observo a vida sem nela entrar

2 meninos no mar



Crianças são amáveis
a 50m de distância

Seus gritos são murmúrios
sua agitação é calma

Abrem as asas
experimentam liberdades

Envolvidos apenas
pelo meu terno olhar

terça-feira, 9 de julho de 2013

No seu aniversário, o que você quer?

O aniversário é nosso Reveillon pessoal, a passagem de mais um ano em nossas vidas.

Como no ano novo, devemos soltar fogos. Prestar atenção e comemorar com os amigos o mistério e o milagre que é a nossa vida.

Como no ano novo, o aniversário também é um momento de reflexão. Relembrar nossa vida e pensar sobre o que temos feito dela. E buscar no nosso interior, no silêncio de depois da festa, o que queremos ser. Há uma história da tradição judaica que revela o sentido desta busca:

“Por que estás tão irrequieto?”, perguntou o discípulo ao Rabino Sússia, ao vê-lo em seus momentos finais de vida.
“Tenho medo”, respondeu Sússia.
“Medo de quê, rabino?”.
“Medo do Tribunal Celeste”.
“Tu? Um homem tão piedoso, cuja vida foi exemplar? Se tu tens medo, imagine nós, cheios de defeitos e imperfeições.”
Rabino Sússia, então, diz: “Não temo ser inquerido por não ter sido como o profeta Moisés, não deixei um legado de seu porte. Eu posso me defender dizendo que eu não fui como Moisés porque eu não sou Moisés. Nem temo que me cobrem profecias como as de Maimônides, por eu não ter oferecido ao mundo a qualidade de sua obra e seu talento. Eu posso me defender dizendo que eu não fui como Maimônides porque eu não sou Maimônides. O que me apavora neste momento é que me venham indagar: ‘Sússia, por que não foste Sússia’?”

(A história do rabino Sussia foi contada na peça A alma imoral)

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Não à passividade. Não à violência.

A identificação de problemas e a vontade de participar na construção de um mundo melhor é o próprio instinto da vida. Então, quando as pessoas não querem fazer nada, afirmam que o mundo é assim mesmo, que nada pode melhorar; é hora de dizer: mais, mais. A história humana é cheia de conquistas obtidas pela participação pacífica das pessoas, pela adoção de causas, pela mudança de atitude, pelo engajamento persistente e realista na busca de diminuir nossas misérias.

A ideia de que da destruição violenta das pessoas e instituições que estão no poder milagrosamente surgirá um mundo melhor é parente próxima da ideia de passividade, pois também acredita que nada pode ser feito para melhorar, por isso o caminho é a destruição. Então, quando as pessoas querem mudança já, a qualquer custo e de qualquer maneira; quando não pensam nas consequências imediatas de seus atos; quando pregam a violência e a destruição como forma de mudança; é hora de dizer: menos, menos. A história humana também é cheia de exemplos de como os movimentos destrutivos e violentos (que podem crescer em meio a movimentos pacíficos) pioram o mundo; primeiro pelas vítimas da violência (o que não é pouco), depois ou pelo endurecimento das instituições no poder, o que dificulta e atrasa as mudanças necessárias, ou pela destruição das instituições e da legalidade, gerando mais violência até que um poder mais autoritário, forte e injusto se estabeleça.

sábado, 18 de maio de 2013

Bondade

Enquanto a bondade for vista apenas como sacrifício em benefício dos outros, quase ninguém vai conseguir ser bom. O que nos permite ser bons é que a bondade é também um sacrifício em benefício próprio. Somos bons porque o sacrifício da bondade é menor do que a satisfação que ela proporciona.

O benefício da bondade é quase sempre de natureza diversa do sacrifício que ela exige. Por isso quem se sacrifica esperando algo (reconhecimento, sucesso, felicidade) em troca, geralmente se decepciona.

Cuidado com a palavra sacrifício. O que é sacrificado é o exagero, a ganância, alguns prazeres imediatos e destrutivos. Sacrifício, bem entendido, é uma entrega que vale a pena. Se eu sinto essa entrega como um grande sacrifício, talvez haja algo errado.

Miudezas


As miudezas são o eterno, e o resto, todo o resto, o breve, o muito breve.
(Antonio Porchia)

A vida é muito difícil, às vezes acho que vou desmoronar. Quando posso, choro, mas choro mesmo.

No meio do desespero, o que me salva é ler um livro. Ganhar certa distância de mim vivendo a vida e os dramas de outras pessoas.

Ou então penso sobre o funcionamento da mente humana, que nos traz tantas maravilhas e sofrimentos. E busco, ou melhor, me esvazio de tudo para observar a beleza das miudezas e deixar entrar a

Esperança


O fato de não vermos um caminho, não significa que não há caminho; o fato de não vermos uma saída, não significa que não há saída. Constantemente (desde o útero), na nossa vida, há situações em que não há saída, em que não há caminho. Se acreditamos que o mundo termina onde nossa vista alcança, nos desesperamos. Mas se percebemos que a nossa visão é limitada, que o mundo vai além e para além daquilo que enxergamos, podemos esperar.

No livro A arte de se salvar, Nilton Bonder ensina, fazendo um paralelo com a história de Moisés diante do Mar Vermelho, que se ficamos e encaramos de frente a nossa situação, um novo caminho se abre. Isso é esperança, isso é fé. Fé não é saber o que é Deus ou o Transcendente, ou qual será o nosso destino, mas sentir (por um breve momento) que o mundo é maior do que os nossos olhos podem ver e seguir em frente.

Abaixo, reproduzo dois trechos do livro A arte de se salvar, de Nilton Bonder:

Os Incríveis Momentos em que não Temos Saída (pg. 121 a 129)


(...)
Uma imagem em particular me ocorre quando busco resgatar estes instantes. De minha infância praieira, recordo-me da sensação de estar no mar e perceber ao longe uma gigantesca onda se formar. O repuxo e a profundidade da água já não mais permitiam nadar até a areia e não restava outra alternativa a não ser enfrentar a onda. Recordo-me destes momentos, em que uma única fração de tempo congelava a descoberta: “não tem saída”.
(...)
É como se estivéssemos estabelecendo que “não haver saída” é a experiência imaginária em que gostaríamos de estar em outro “aqui-e-agora”, que torna insuportavelmente pesado o compromisso com o nosso verdadeiro “aqui-e-agora”. Moisés sabe o segredo: “fica”. Fica aqui, põe os pés no lugar onde realmente estás e haverá saída. Ela não está em voltar à areia para contemplar a onda tomando um sorvete, mas na interação gelada com a onda.
(...)
Estar diante da onda no instante de mergulhar e sonhar com o sorvete em terra firme, ou simplesmente voltar-se para trás, vislumbrando a possibilidade de fuga, configura o próprio desespero. “Ficar” – estar no lugar e no momento – é o passo inicial para “marchar”. Ao marchar, por incrível que possa nos parecer, faz-se presente uma dimensão de “mar que se abre para nossa passagem”. Não é milagre, não é necessariamente o que gostaríamos que acontecesse, mas é o nosso processo, e a garantia de que, para preservá-lo, “mares que se abrem” não são mais do que um fenômeno corriqueiro.

A Esgotabilidade da Tristeza (pg 143 a 145)


Quando nos sentimos tristes buscamos nos distrair, ocupar ou consolar com coisas que nos alegrem. Não percebemos que desta maneira fortificamos a experiência da tristeza. Isto porque a tristeza a gente encara de frente, olhando direto em seus olhos. Experimente aceitar a tristeza quando ela se instala. Deixe por momentos que o aperto na glote se misture com o amargor do coração e, ao agarrar a tristeza, descubra sua esgotabilidade. Se corrêssemos ao encontro de todas as nossas tristezas, perceberíamos que elas são sintomas da alma e que das lágrimas que esta pode gerar surge a possibilidade do arco-íris, de um novo dia com renovada fé.
O medo da tristeza, portanto, fertiliza a sensação de desespero. Já a tristeza em si, ao contrário, é um dos portais rumo à fé. Afinal, acaso não será real a experiência que vivenciamos quando, depois de muito chorar, passamos a sentir nosso coração leve e vemos novas perspectivas surgirem diante de nós? A verdade é que não explicamos este fenômeno ao concebê-lo apenas como uma descarga de sentimentos, como se estes possuíssem um volume que pudesse ser escoado. A razão de a tristeza profunda ser seguida de uma sensação de esperança tem a ver com um ensinamento que descobrimos ao entregar-nos à tristeza. Revela-se a nós o fato de que cada instante traz em si os meios para que lidemos com ele. Por mais terrível que possa ser ou parecer nossa realidade, há sempre à nossa disposição uma forma de vivê-la.
Na verdade, acreditar que cada momento traz em si tudo o que ele mesmo possa vir a exigir de nós é a maior de todas as esperanças. Esta esperança traduz a confiança que temos em D’us, no Universo ou na Natureza de não violentar nosso intelecto. Sabemos que não podemos esperar nem cobrar que este mundo não nos faça conhecer nenhuma perda, ou até mesmo a perda de nossa própria vida. No entanto, é um ato de fé que não fere nossa experiência da realidade esperar que cada situação traga como parte de sua realidade os meios pelos quais podemos suportá-la e lidar com ela.
No Talmude há um dito que expressa uma lógica referente às leis que poderia ser estendida às leis naturais, existenciais e espirituais. Diz esta máxima: “Não se decretam leis ou éditos que não possam ser cumpridos.” Confiar não é o ato de esperar que nada de errado nos aconteça, mas acima de tudo ter certeza de que seja qual for o édito, este virá sempre acompanhado dos meios para ser suportado. Esta é, na realidade, exatamente a definição de não se desesperar.
Isto vale para a angústia e para a ansiedade: o fundamental não é que se procure sublimá-las, mas vivê-las. Quando vividas, elas se esgotam. 
(...)
Esta capacidade de concentrar ansiedade, tristeza e luto não se consegue através de fuga, mas do enfrentamento destes sentimentos. Todos estes sentimentos podem ser relevados se vividos profundamente. A evidência maior se encontra no sorriso que desponta depois da entrega ao pranto, ou na sensação de triunfo e transcendência que experimentamos depois do sofrimento.
A tristeza é uma oportunidade, não deve ser perdida. Se ela passar por você, persiga-a com a certeza de que ela lhe indicará o caminho para um “oásis”. A tristeza, pois, tem o poder de restabelecer nossa confiança de que cada momento contém em si a forma de ser enfrentado. Cada vez que vivemos a tristeza e a suportamos, ela fortifica nossa esperança de que também nos céus prevaleça a lógica que evita que se baixem decretos que estejam além das possibilidades daqueles que estão sujeitos a cumpri-los.