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Sagrado (Nilton Bonder)

O Sagrado
(trechos selecionados)

Nilton Bonder
SAGRADO X SEGREDO

A substituição da noção de sagrado por segredo é uma maneira de capturar as idiossincrasias espirituais de nosso tempo.
A única palavra que tem uso exclusivo na religião e na espiritualidade é a palavra “sagrado”. Não há qualquer outra matéria do pensamento humano que utilize tal palavra. Não pertence à filosofia, à sociologia, à literatura, à ciência em geral, à psicologia ou à jurisprudência. Significa que algo é “colocado à parte”. Sagrado significa algo que está fora, que permanece fora, separado. Tal como um óleo transcendental, o sagrado não se dissolve e não se mistura ao mundano. Jamais o ser humano experimentará o sagrado na rotina e na usualidade, mas será uma instância que permanecerá isolada, diferenciada das demais.
A percepção e a celebração do sagrado rendem ao ser humano acesso e representação no imortal. Mesmo que não sejamos imortais, o imortal nos perpassa. Sua vizinhança já basta como resgate, auxílio e salvação.
(...)
Transvertido de oculto, o segredo é o desejo por clareza, por manifestação daquilo que é imanifesto. Essa tentação que já vestiu muitas roupagens em distintas épocas ganha hoje o estilo do consumo, dos ideais capitalistas e do individualismo. (...)
Daí a motivação deste livro de contar um antigo segredo, um segredo sobre o segredo, e que restaura ao oculto sua dimensão sagrada.
O SEGREDO DO SEGREDO
Desde tempos imemoriais o ser humano acredita na existência de algum segredo ou alguma lei universal que lhe permita desfrutar de riquezas, poderes, sabedoria e sucesso: riquezas que saciem o corpo com conforto e prazeres; poderes que garantam suas vontades; sabedoria que mantenha sua supremacia; e sucesso que estabeleça ao mundo o quão especial se é. Em outras palavras, um segredo que explique certas trajetórias vencedoras e outras perdedoras.
(...)
O segredo não é a chave para resolver problemas, é na verdade a fonte dos problemas e a causa das maiores distorções que fazemos ao tentar entender a vida e a realidade a nossa volta.(...)
Conta-se a história budista de um querido mestre que veio a falecer. Os incultos se puseram a chorar copiosamente pela perda do estimado líder. Os neófitos que tinham acesso à tradição (ao segredo) não choravam. (...) Já os verdadeiros sábios, os mestres mais experientes, estes choravam pelo falecimento do líder. (...) Há uma tristeza legítima na passagem de um companheiro querido. O choro se fazia acompanhado do conhecimento de que não se tratava de um término total. Não reconhecer que estavam diante de um fim seria uma ilusão. O segredo é que ele não morreu; o segredo do segredo é que ele morreu sim, mas não como as pessoas entendem a morte. (...)
Nos “segredos” que a cultura e a tradição propiciam é que se encontram as maiores armadilhas ao discernimento. Enquanto não se conhece o segredo do segredo, o sagrado, não se dispõe de um antídoto a esses vírus que nos aprisionam em labirintos de verdades particulares e miragens da realidade.
O segredo não é o acesso a uma obviedade desconhecida.
O verdadeiro segredo é o “oculto do oculto”, é aquilo que justamente a obviedade não permite enxergar. Sua simplicidade é sofisticada porque sua distinção não reside no fato de ele ser algo diferente do que realmente é, mas sim na forma como é percebido por quem o conhece. Morte é morte e vazio é vazio. O segredo quererá fazer da morte algo que não é morte e do vazio algo que não é vazio. O segredo do segredo, o sagrado, tem o poder de nos resgatar de volta ao que é real redimindo-nos de um engano tão sedutor. Quem desconhece o segredo apenas vê; quem conhece o segredo, fantasia; e quem tem acesso ao segredo do segredo, ao sagrado, ganha visão ampla.

A VERDADEIRA LEI DO UNIVERSO

O mais importante de todos os segredos dos segredos diz respeito ao nosso próprio ser.
O inculto diria que somos apenas mais um ser entre um número incalculável de seres espalhados num universo infinito. Nossa magnitude, nosso tempo, nossos sentidos, nosso poder, nossa sabedoria e tudo mais são insignificantes.
O antropocentrismo – o homem como eixo do universo – coroado pelo individualismo – a minha pessoa no centro do humano – é a plataforma mais delirante pela qual enxergamos a realidade.(...)
Assim sendo, o sucesso seria imposto pelo próprio ser humano a despeito do meio ambiente. O rico fica mais rico porque detém esse segredo; o pobre fica mais pobre porque carece desse segredo. O fiel a qualquer sistema de segredos é abençoado enquanto o infiel é amaldiçoado; para um, a salvação e para outro, a danação. (...)
O segredo do segredo, no entanto, retorna ao lugar do inculto e pega emprestada sua visão. O ser humano e seu pensamento realmente não são onipotentes, muito pelo contrário, grande é sua vulnerabilidade e sua ignorância. Porém, o ser humano que conhece a pequenez de si e de sua vontade é um gigante. É sem dúvida impressionante a grandeza de um ser que pensa e que consegue não se colocar no topo de nenhuma cadeia ou pirâmide. Há nobreza no pensamento que não se enreda em autovalorização e autoglorificação e se submete a uma incessante auditoria para não se corromper por seus próprios desejos. Não somos especiais e esse é o segredo do segredo. (...) Não é pouca coisa ser dotado de inteligência e consciência e não se asfixiar no próprio ego.
Nesse lugar tão digno e apropriado o ser humano redescobre o fato de “não ser especial” como uma conquista gloriosa e libertadora. Com essa consciência, podemos falar com o universo, com Deus. É este “eu” feito de delírios produzidos por segredos que ofusca a possibilidade de se ver Deus e de se perceber a realidade com mais lucidez.
(...) Saber que nosso pensamento pode produzir o delírio proposto pelo segredo e que podemos ter maestria sobre nossas alucinações revela nosso verdadeiro tamanho. Não ser nem mais nem menos é uma potência inigualável. Ninguém é mais poderoso do que aquele que se é plenamente, não permitindo que sua insegurança lhe impeça de ocupar seus espaços e que sua arrogância fantasie jurisdições que não lhe competem.
Só o humilde sabe pedir. Só o humilde conhece a nobreza de saber adequar a si e seus desejos ao mundo que o rodeia. Seu território prioritário de controle está em si mesmo.(...)
Enquanto o segredo seduz com a possibilidade de ter e atrair tudo o que queremos, o segredo do segredo questiona a satisfação do desejo como a fonte absoluta de bem-estar. E não foram poucas vezes que como rabino vi pessoas que, ao receber o que pediam, se defrontaram com a mais terrível das maldições.
Vencedores que acham que têm “estrela” e perdedores que se vêem perseguidos por sua má vibração: saibam que estão tomados por uma mensagem subliminar. Em ambos, (...), está implantado o segredo de que são especiais. O segredo não é incorreto, mas enganoso. Far-se-ão especiais quando reconhecerem (como vê o inculto) que não são especiais; ganharão então a visão para perceber que como “não-especiais” ocupam seu lugar mais diferenciado e nobre.

A BÊNÇÃO E A MALDIÇÃO

Um episódio bíblico é fundamental para compreender o que é uma bênção e o que é uma maldição. (...)
O relato encontra-se no livro de Números XXII, Ali aparece a figura de BaLaK, talvez um dos primeiros a descobrir o “segredo”. (...) Para ter-se o gostinho do simbolismo presente no arquétipo de BaLaK, entenda-se que as letras do seu nome são uma inversão ou uma confusão das letras KaBaL, a raiz da palavra Cabala. Balak é a contramão da Cabala, é um segredo que é a própria armadilha no caminho da sabedoria. Cabala (KBL) tem sua raiz na palavra “receber”. Sim, a lei da atração funciona porque aquele que se posicionar na vida “receberá”. Mas o segredo do segredo é que receberá bênçãos e não desejos atendidos.

A MÁGICA E O SUBLIMINAR

Balak e Bilam não conseguem atrair o que desejam apesar de se concentrarem e pedirem intensamente ao universo. A noção de que “seu desejo é uma ordem” é totalmente desqualificada. (...)
Esse relato bíblico tem como propósito maior colocar a questão da magia, do encantamento que se pode gerar em torno de alguém ou de um grupo. Esse encantamento positivo se denomina bênção, o negativo de maldição. No entanto, confundimos a questão da “magia” com a da “mágica”. A mágica pressupõe justamente o segredo: como modificar o mundo de tal maneira que ele se conforme a minha vontade. O segredo do segredo, por sua vez, é o caminho de se aproximar da magia sem recorrer à mágica. (...)
Não há mágica em Israel. Entenda-se por mágica a proposição subliminar de que “eu sou especial”. A mágica é sempre o instrumento para afirmar o quão especial alguém é em detrimento de outrem. Mesmo quando o que queremos não está em oposição a ninguém, a imagem subliminar de que podemos acessar algo que tantos outros não podem nasce de uma percepção de “segredo” ou de algum direito exclusivo que se tenha. E para que haja exclusividade, alguém ou muitos deverão estar excluídos. Não há como ser especial sem evocar supremacias sobre outros ou vantagens sobre situações. O segredo é mágico, sempre. O segredo do segredo é a busca do lugar da benção, que é um território sem manipulações e sem feitiçaria. (...)
Quando os senhores inicialmente propõem que Bilam amaldiçoe, ele consulta Deus, que o proíbe. Quando na segunda visita os senhores mais influentes prometem “honrá-lo muitíssimo”, ele responde dizendo: “Ainda que me desse Balak a sua casa cheia de prata e ouro, ...” (...)
...Os comentaristas sagazmente percebem uma outra forma ainda mais dissimulada de contaminação subliminar. A própria formulação de Bilam conteria essa subjetividade. Quando alguém faz uma explanação relativa a uma impossibilidade não usa o frasear de Bilam. Por exemplo, ninguém diria “mesmo que me dessem uma casa cheia de ouro eu não voaria”. Se voar é uma impossibilidade plena, não há razão para evocar a imagem de uma casa cheia de ouro. Simplesmente não é possível e ponto. A formulação de Bilam, portanto, apontaria para uma possibilidade dissimulada. Onde ele diz “não há preço”, leia-se em seu coração, “sim, há preço”. Sem imaginar-se traindo seus valores e convicções Bilam já está tentado pelos desejos e pela percepção de ser especial. Isso tudo acontece por se dar voz aos desejos. Se eu quero e a lei da atração torna tudo possível, então não há interdição definitiva. Deve haver algum jeito, alguma mágica, algum segredo que possa contemplar meu desejo, basta encontrar o caminho.

O DEUS ADULTERADO

Quando Bilam fala com Deus pela segunda vez, Deus parece estar diferente. Na primeira noite Ele o havia proibido de acompanhar os senhores de Moab. Já agora permite que considere a questão, como se o texto propositalmente aproximasse o teor da fala de Deus ao desejo de Bilam. Essa aparente sintonia talvez revele ironicamente uma propensão ao auto-engano. Transparece o interesse sub-reptício do mago em realizar o trabalho para o qual buscam comissioná-lo. Seu discurso diz que só fará o que Deus lhe disser, mas parece que seu desejo exerce influência sobre a palavra divina. Deus se mostra mais flexível à vontade de Bilam. Talvez seja a lei da atração? “Seu desejo é uma ordem ao universo” parece ser a expectativa de Bilam que gradativamente conforma Deus ao seu querer. (...)
Bilam está iludido pelo segredo. O segredo nos faz achar que o universo se acomodará a nós porque somos “especiais”. A impossibilidade inicial que Deus aponta não interessa a Bilam. Seria tão melhor se houvesse um jeitinho! “E quem disse que não?”, sussurra o segredo. Bilam não percebe que esse Deus lhe está aparecendo de forma distorcida, como um fantasma corrompido pela força gravitacional do seu desejo. Essa, sim, é uma lei universal da atração: tudo que passar perto dos nossos desejos tenderá a se corromper, conformando-se ao nosso querer. (...)
Funcionaria se este Deus adulterado não dissesse também: “mas somente a coisa que te direi farás”. A realidade quando deturpada e corrompida pela força gravitacional de nossos desejos cede até um certo ponto. (...)
Essa é a maior tragédia de quem vai se deixando dominar por seus desejos. Lentamente se estabelece uma distância entre essa pessoa e Deus. A fala de Deus não será mais confiável como uma voz independente à nossa consciência. Não será mais uma supraconsciência, mas o artifício do ventríloquo que reproduz o próprio desejo dissimulado na voz divina. Esse Deus particular que bajula a vontade dizendo “sim” a tudo o que eu quero representa (...) a distância derradeira de Deus, seu ocultamento definitivo, o caminho rumo à mais profunda solidão. (...)
Deus será sempre o intermediário entre a consciência e a realidade. Quem perde esse mediador entra no labirinto de sua própria realidade. Não encontra mais saída para o mundo real e todas as suas vivências parecerão sempre um grande mistério. Por vezes, o segredo funcionará com clareza e reforçaremos nossa fé em sua eficiência, por vezes não funcionará e tentaremos buscar explicações do tipo: “não me concentrei o suficiente”, (...). Assim as explicações nos colocarão cada vez mais num lugar cego, tentando remontar a realidade de acordo com nossos delírios.
Sem Deus caminhamos desorientados. Ensurdecidos e ofuscados pelo desejo sucumbimos à lei da atração máxima e cavamos para nós um buraco negro existencial. Implode-se a realidade perante esse Eu máximo e tudo que orbitar suas cercanias será tragado pela lógica única que explica o mundo pelo querer.

O DESEJO E A PERDA DOS DONS

Após ouvir Deus dizer-lhe para ir com os senhores de Moab, Bilam selou sua jumenta e se preparou para partir. Diz então o texto: “E acendeu-se a ira de Deus porque ele se ia: e pôs-se um anjo do Eterno no caminho para impedi-lo”.
Por que se zangaria Deus? Não havia permitido que ele os acompanhasse?
Talvez porque, como dissemos, a escuta de Bilam não seja uma reprodução fiel do que Deus lhe diz. O profeta Bilam estaria perdendo a capacidade de compreender e de ouvir Deus. Sua consciência estaria falando alto demais e sufocando qualquer outra escuta. Diz-se que a fala de Deus é uma voz delicada e sussurrada. O desejo, quando fala, traga qualquer outra escuta revelando a verdadeira “lei da atração” que captura e cativa tudo o que não se quer ouvir.
O anjo representa o impedimento, a energia da vida que não subscreve a nosso desejo. Sem o aval da vida nosso desejo não vai longe e não se transforma em benção. E esse aval ao desejo não é automático e incondicional. (...)
Saber ver esses momentos em que o desejo não pode nos conduzir é fundamental. Mais ainda, é essencial que neles não vejamos somente a realidade e seus anjos, mas que tenhamos visão. Visão de por que os caminhos não se abrem. E, na maioria das vezes, não o fazem porque não pedimos ao caminho que se abra, não o convencemos e não o seduzimos para tal, simplesmente lhe impomos como se dispuséssemos de tal poder. O caminho se arranha em nós, suas paredes atritam com a nossa pele e nos inflige feridas. E a pior das chagas do caminho bloqueado é a perda de nossos dons. (...)
Para nós humanos a fatalidade não existe, o que, sim, existe é a intolerância aos caminhos bloqueados e a intransigência do desejo que cegamente chicoteia o destino querendo se impor. (...)
Quão maldito é aquele que só escuta sua própria voz!
A verdadeira benção é continuar a escutar vozes. E quanto mais dissonantes de nosso autoritário desejo, mais abençoados somos. Não resistir a si mesmo e à tendência de maquiar a realidade com os cosméticos do quão especial se é, irrita e convoca anjos ao bloqueio de nossos caminhos. (...)
Quem insiste no que não consegue ou quem consegue pensando que a benção é uma extensão apenas do seu querer, perde dons. Satã impedirá que se vejam os anjos do caminho e só restará uma jumenta para conhecer a realidade. Essa jumenta será um destino que poderá ganhar voz e, assim, fazer com que se desperte do torpor. Será uma jumenta de doença, por exemplo, que gritará ao ouvido: “Idiota, você não vê que não há passagem por esse caminho? Pare de me espancar e abra os olhos para que eu, jumenta-destino, não tenha que abrir a boca e falar!”
Devemos enxergar os limites e as passagens. Sim, há o que é alto demais para se ir por cima, o que é baixo demais para se ir por sob e o que é vasto demais para se passar ao largo. Quando isso acontecer, em vez de tentar e tentar, em vez de ficar agressivo, repense sua jornada e seu empreendimento. Não se guie pelo desejo, mas faça-o transitar pelas sendas desimpedidas. Para tal, serão necessários os dons e a voz de seu Deus. Quanto mais desejo, menos dons; quanto mais desejo, menos escuta; quanto mais desejo, mais destino.

COMO AS SEMENTES JUNTO À ÁGUA

Não há maldição maior do que perder seu Deus. Essa não é uma afirmação religiosa, crente. Equivaleria a perder a esperança ou a fé pessoal em linguagem laica. Quando a voz interna que fala por meio de sonhos e projetos é sufocada por desejos e por suas subseqüentes desilusões, perdem-se a ingenuidade e o elã que são imprescindíveis. Para onde quer que se corra ou se olhe, lá está o desejo. E não bastará saciá-lo no momento, porque o desejo está sempre mais preocupado com a preservação de sua potência do que com a própria experiência de usufruir sua realização. Este é o custo satânico do desejo: obstruir a benção da satisfação e da plenitude. O governo do desejo é sempre marcado pela maldição da carência e pela dependência total do querer. Só o que tem origem no querer nos atende. Não há espaço então para que se cogitem o mimo, o afago ou o cuidado para conosco, como se o indivíduo fosse a única fonte capaz de brindar-se presentes. Com isso decretamos o fim da surpresa, da graça, do encanto, do favor, do obséquio e da delicadeza.
Quando percebo que consigo algo do universo utilizando apenas de meu querer elimino a possibilidade de que o desejo tenha origem de um estímulo externo, produzido fora de mim. Com isso abro mão de uma outra fonte de quereres, essa sim, inesgotável, cuja dádiva maior não está na experiência de ter saciado os desejos, mas na garantia de que se farão manifestos. (...)
Bilam define a bênção na explicação: “sua prosperidade será como a semente junto às águas”. Essa imagem evoca um potencial que enche os olhos. Não se trata apenas da semente e sua virtual capacidade de fazer nascer, mas do fato de estar nas cercanias de condições propícias para que isso possa acontecer. Conjugar possibilidades internas e externas é o que chamamos de bênção. Diferente do desejo e seus segredos que não aceitam interagir com outros desejos ou se submeter, mas cuja essência está em impor e exigir. A semente não faz nascer sem a vontade da água e nem tudo a nossa volta tem essa mesma vontade. A prosperidade está no casamento de vários potenciais. Esses potenciais, no entanto, não são desejos. Eles se semelham e se camuflam de desejo, mas são na verdade bênçãos. A diferença sutil está na origem de onde brota – o desejo nasce da semente que quer germinar, a bênção nasce na dádiva da água que encontra o potencial da semente e o desperta. No primeiro, o desejo pertence ao indivíduo, a um item independente; no segundo, é um encontro de potenciais. A atração não é um poder que faça acontecer o que eu quero. A atração se dá entre potenciais que se completam. Tal como o masculino encontra sua função no feminino, tal como a carga negativa encontra atração na positiva. Atrações e repulsões nunca nascem em um único item que as impõe, pelo contrário, elas são interações que só podem se dar no espaço “entre” e nunca “em”.
Lindo não é ver a semente. Lindo é ver a semente junto à água. Ou, em outra etapa, vê-la flor ou fruto.

FUGINDO DA EMBOSCADA

Realmente há algo de caricato em ser o “melhor”. Há algo de grotesco neste superlativo indivisível cujo sintoma se manifesta em inchaço e vaidade. No entanto, ele revela o segredo. Eu sou especial. Eu me sinto especial porque nas cercanias da minha pessoa o universo se torna curvo e sua realidade é distorcida pelo meu querer, pelo meu ser. Todo organismo cuja função é administrar seu funcionamento e sua vida não tem como evitar o seu maior comando interno que é se preservar e se privilegiar a todo custo. O efeito contínuo desta tarefa gera nesse organismo uma consciência desta importância. Em si ela não é ilusória, é percebida e vivida por toda uma vida como algo inquestionável. De certa forma é até perigoso e contraproducente para um indivíduo não se perceber desta maneira. (...)
É verdade que o mundo atende demandas e oferece enormes possibilidades, mas isto acontece também num mundo onde as pessoas adoecem e morrem, onde são mortas, onde são injustiçadas. Um mundo onde o atendimento de tantos pedidos é acompanhado de tantos não atendimentos. Em que vencer ou se impor representa um estado momentâneo e não uma natureza do indivíduo. O indivíduo, porém, é como uma semente, que plantada junto à água estará diante da bênção.
Ser especial sem se afastar da realidade é a máxima qualidade de vida que um indivíduo pode usufruir. E para gozá-la é fundamental reconhecer que se é o “melhor”, sem se perder a referência de que se é nada. Para os sábios isso é o mesmo que conciliar as seguintes sentenças: “para mim o mundo foi criado” e “pó sois e ao pó estais destinados”. (...)
Quão incrível o potencial que existe nesse e naquele e também naquele outro. Todos especiais e melhores; todos ordinários e triviais. Todos plenos de potencial, mas o querer, a lei da atração, está fora deles, está entre eles. Não enxergar isso nos faz cegos como o profeta Bilam. Ficamos insensíveis aos anjos do caminho. (...)
Essas vontades que abrem e bloqueiam caminhos são as que precisamos ver. Dessa visão depende a capacidade de nos colocarmos junto à água e germinar. Quem não se acha o melhor vê caminhos abertos e caminhos bloqueados e atribui isso ao acaso. Quem se acha o melhor enxerga os desejos presentes na vida, mas acha que são os seus. Ofuscado pelo querer, os toma como pessoal e não vê os anjos que representam as bênçãos e as maldições, o que se abre e o que se fecha aos potenciais. Já quem sabe ser especial e o mais comum, tem visão para enxergar os anjos que incentivam e os anjos que desembainham espadas.

TENDAS E MORADAS

(...) Cada indivíduo constitui uma manifestação pessoal e fugaz (uma tenda) ao mesmo tempo em que é expressão de algo maior, de uma identidade mais perene, tal como ser parte de uma tribo, de uma espécie, de um gênero, ou da vida como um todo. Temos que ter visão não só de nossas tendas, mas também de nossas moradas. Só assim podemos usufruir sua beleza e compreender não só o segredo de quão belas são as tendas, mas o segredo do segredo de quão belas são as tendas em função de suas moradas.
As pessoas incultas reconhecem a vulnerabilidade da vida. Vêem suas tendas e pensam consigo: “Quão frágil, quão efêmera!” Já as pessoas que conhecem segredos percebem construções mais perenes da existência (moradas) e comumente as transformam em imunidades. Não é raro que se percebam tendo “uma boa estrela” ou um “anjo de guarda poderoso”, que simbolizam certas garantias e expectativas de regalias para com a vida. Nesse lugar estão os que desenvolvem valores e comportamentos específicos da expectativa de retribuições e prerrogativas especiais.
Aos que conhecem o segredo do segredo, a percepção ganha perfis semelhantes ao inculto. Sim, a vida é profundamente efêmera. Uma citação do Talmud diz: “Vive a tua vida hoje como se fosse o último de teus dias.” Para que salte aos olhos a beleza de uma “tenda” é fundamental que ela tenha sido montada com a sensibilidade de seu caráter passageiro. Sua qualidade maior é o desprendimento e a coragem de se manifestar como algo do momento, sem pretensões de permanência. A paixão e a delicadeza são formas de “tendas”. As ideologias, a caridade, a liberdade e a criatividade se estruturam como “tendas”, concebidas para dar conta do momento e de suas provocações. Quando vemos algo assim, desprendido da necessidade de permanência, reconhecemos a beleza e condições para a bênção.
Ao mesmo tempo, a “morada” é a outra coordenada fundamental.
Quando entremos no ônibus sentei junto a esse homem e lhe perguntei: “Então o senhor é o mais idoso de todos... qual é o seu segredo? Qual a fórmula da juventude?” Ele imediatamente respondeu: “Meus filhos acham que eu sou louco. Faço planos como se não fosse morrer nunca. Realizo investimentos para daqui a vinte anos e faço meus projetos para médio e longo prazo. Sabe o que é? É que o Criador pode me levar a qualquer momento... isso é problema Dele, o meu é fazer planos. A minha parte é fazer meus planejamentos e isso eu faço.”
A juventude está na percepção da qualidade das “moradas”. O jovem tem essa sensação de permanência como um dado e se vê diante de um futuro que parece inesgotável. Servir a este futuro é de uma alegria incomensurável. Porém, o ancião que não cai na armadilha de ser escravo apenas de desejos e vive coletando bênçãos também se vê como parte de um projeto, mesmo que o futuro de sua vida pessoal seja breve. O senhor em questão faz planos não para que eles se realizem e possa colher seus frutos. Ele planeja o futuro porque sua parte, sua função, sua tenda não perdem contato com as moradas. O que lhe permite fazer projetos é se sentir parte de um projeto maior.

ISOLANDO O VÍRUS DE BILAM

(...) Está muito enganado quem pensa que a maldição do inimigo representa a sua bênção, ou vice-versa. O abençoado não será amaldiçoado e o amaldiçoado não será abençoado. Não há intervenção possível na bênção porque ela não é relativa a um terceiro. Ela se origina e se consuma numa interação que é absoluta e não há olhar ou força maligna que modifique isso. (...)
(...) O outro não diminuirá a sua bênção, ao contrário, a ampliará. A bênção não diminui quando repartida, mas surpreendentemente se reforça e se propaga. A bênção contagia e não se fragmenta. (...)
Ao perceber que a bênção se dissemina no outro descobrimos aspectos de interdependência e nosso espírito se faz humilde. (...)
É essa alma generosa que ganha ofertando, que aufere ao se desprender e que recebe ao repartir que se torna abençoada. E ninguém a poderá amaldiçoar porque não se trata de tirar algo dela, mas impedir que ela produza algo em si mesma. A fonte da bênção não é uma coisa, um desejo, que se possa privar, mas nasce no próprio ser sobre quem ela se confere e os seus recursos não lhe são externos, mas internos.(...)

KaBaLa X BaLaKa

O segredo é que somos especiais. O segredo do segredo, no entanto (e que isso não se conte a ninguém), é que não somos especiais. As bênçãos conspiram para nós, mas os desejos não. As sementes plantadas junto às águas representam um potencial que não está presente apenas no mundo natural. Esse potencial da “semente junto à água” não é uma proposta exclusivamente concreta ou racional, onde o máximo de mistério que se aceita está na poética; não é uma expressão de quem só reconhece o sólido ou o real visível. É preciso visão para enxergar o encantamento, as belezas de tendas e moradas, de anjos que abrem e fecham caminhos, para entender que o segredo do segredo do que se vê é que tudo é repleto de magia fora da plataforma de privilégios e concessões que tanto nos seduzem. (...)
Mas sim, é verdade: tudo muito encantador e muito cheio de beleza. Sim, é tudo cheio de encanto sem que sejam dados privilégios para encantamentos. Sim, é tudo repleto de exceções e de novidades, de descontinuidades e paradoxos, mas nada disso está a serviço do meu querer. Que existam gatos com poderes e toda a sorte de magos serve ao propósito de me fazer “especial”. É vírus, o parasita que se nutre da meia-verdade de que sou especial. Sou especial, não porque essa é minha essência, mas porque junto à água experimento o quão fantástica é a realidade, aquilo que é sem ter que recorrer ao que pode ser, e ganho visão e escuta. Visão para ver os anjos que labutam incessantemente para manter algumas passagens abertas e outras fechadas. Anjos incorruptíveis com suas espadas desembainhadas em todos os acessos deste universo. Escuta para não perder o dom de ouvir a voz de Deus. Uma voz cuja natureza está na interdição, no apontamento de nosso limite, na demarcação de outra Vontade para além da nossa individual.
(...) Saia do lugar de rei, de querer usar o universo e suas exceções para se beneficiar de um lugar que não é seu. Isso tudo não por conta de uma moral, mas da noção de desperdício, do pecado de anular seu verdadeiro potencial e de empobrecer o jogo de seus sentidos e estratégias inerentes. (...)
BaLaKa é a bruxaria que rouba a fé e institucionaliza cosmicamente a mordomia e o privilégio.
A KaBaLa é outra coisa. É algo que sussurra ao ouvido desagradáveis notícias ao nosso desejo, contrariando suas aspirações. Sua tônica não está em prevalecer, mas em aprender e servir. Sua tônica e sua beleza se expressam não em sucesso, mas em alicerce para a formosura de tendas e moradas, de frutos e sementes, de presentes e futuros. A KaBaLa não produz magos, gurus, celebridades ou reis de qualquer ordem. Ela conecta o que antes era desconecto, ela alenta com o fantástico a crença e não a certeza. Ela expõe a coincidência para promover a confiança e não a manipulação. Ela propõe o impossível como ferramenta para fomentar a fé e não a soberba. Ela oferece para quem não demanda, ela disponibiliza para quem restringe o seu desejo.

O CÍRCULO VICIOSO

O outro vírus muito comum e que se implanta em nossos objetivos é o de “querer mais”. Disseminado desde a infância e proeminente no ambiente de consumo da vida moderna, é um dos mais difíceis de ser “eliminado”. Ele nos chega pelas mensagens mais confiáveis, da mãe, do avô, da professora, do líder espiritual e não há bloqueador realmente eficiente a essas mensagens subliminares. Então devemos proceder com este vírus como com qualquer outro para o qual não há proteção total e eficiente. Devemos checar constantemente as áreas que possam estar infectadas. (...)
Querer mais é um looping, um círculo vicioso na lógica interna de nosso pensamento. Imaginamos que a nossa salvação, ou seja, o triunfo de nosso interesse sobre outros interesses do universo, aconteça no território do “mais”. O exemplo principal é nossa relação com a vida e com a expectativa de longevidade. Trabalhamos com a premissa de esticar a vida pelo maior período possível. É claro que esse é um interesse do próprio corpo humano ou de qualquer organismo. E é aqui que está o problema. O vírus só se instala onde já há uma lógica original, de fábrica, na estrutura mais básica. (...)
Imagine a força que teria um vírus presente no sistema de preservação da vida, encravado em todo o sistema de sobrevivência de um indivíduo, se enganchasse sua ordem de “mais” em áreas tão vitais. Seria semelhante ao crescimento de um tumor que nos mata com o próprio material que dá a vida. Sim, porque é com células que o câncer mata um indivíduo cuja compleição é toda ela de células. É o descontrole de “mais” em áreas que desde sua origem funcionam com a incumbência de se multiplicar, crescer e restaurar que implicará o grau de malignidade.

COMO FUNCIONA A CONSCIÊNCIA

A tradição cabalista diz que temos dois tipos de consciência: uma Mente Estreita e uma Mente Ampliada.
A Mente Estreita contém as verdades básicas que inicializam qualquer sistema. (...) Esta é a parte rígida da consciência. Seus sistemas de segurança são enormes e fazem dela uma espécie de “cabeça-dura”, que teima em reduzir e fazer convergir seus comandos. Porém, como sói a tudo que é muito seguro, incorre no risco de que uma vez rompida a segurança o invasor possa usufruir de toda proteção que lhe é inerente para seus próprios fins.
A Mente Ampliada, por outro lado, é mais livre deste aparato de segurança. Ela depreende das relações com outros e com a vida os aspectos que possibilitam releituras e correções constantes. O relaxamento nos sistemas de segurança se deve a sua própria natureza, que é interativa. Para interagir e se comunicar com o mundo, a Mente Ampliada precisa trocar informações e percepções. (...) É interessante notar que tudo que é mais flexível contém justo em sua vulnerabilidade, na falta de rigidez e solidez, a sua potência maior, tal como (...) o junco, que com sua flexibilidade figura na sabedoria bíblica com mais capacidade de suportar vendavais que o cedro. A imponência do cedro, com sua rigidez e suas muitas raízes, se mostra frágil quando se faz necessária a maleabilidade. Dobrar-se à vida é muitas vezes uma estratégia mais adequada do que confrontá-la.
A Mente Ampliada terá que muitas vezes vir em socorro à Mente Estreita quando esta estiver infectada. A espiritualidade é em si o processo de intervenção da Mente Ampliada em nossa Mente Estreita quando a última está infectada por vírus. Caso contrário a Mente Estreita e sua simplicidade estão no mesmo plano sagrado que a Mente Ampliada. (...)
Esse é sempre o problema de conceituar as coisas. A própria mente estreita quererá restringir suas formulações a: “Quem é bom e quem é mau? Quem vai de encontro a meus interesses e quem não vai?”. Proporá então a própria Mente Estreita que ela é pequena enquanto a Ampliada é melhor. Não, cada uma tem sua função, e o que importa é que podem estar trabalhando errado, comprometidas por algum tipo de vírus.
A Mente Estreita é influenciada em grande parte por instintos. Ela será responsável pela briga por sustento e preservação. O vírus mais comum é o que se aloja nesta área de sobrevivência e sua interferência gera a informação de que tudo é escasso. A percepção de que há escassez e de que não há o suficiente para todos produz o estímulo por acumular e obter mais. Os recursos são finitos e as demandas infinitas. Nossa salvação acontecerá se tivermos mais. Mais coisas, mais fé, mais poder e mais controle.
O comando de “suprir” sofre uma perigosa mutação para o comando “mais”. E “mais” passa a ser o foco de interesse. Não é só o “mais” que acumula, mas também o “mais” que explica por que as coisas não acontecem a nosso contento. Então o sonho não se realiza porque tenho que colocar mais intenção, mais foco, mais energia, mais fé. Adicionar preocupando-se em não subtrair passa a ser o comando inconteste.
A lógica se torna tão poderosa que apenas a intervenção da Mente Ampliada pode fazer com que a Mente Estreita reassuma sua instalação original. Caberá à Mente Ampliada impactar a Estreita com seu conceito de que a verdadeira característica da vida é a abundância. Sempre haverá o suficiente se estivermos livres do vírus, da compulsão por “mais”. Esse processo de eliminação de vírus é complexo.
Para que a mente estreita aceite este tipo de intervenção a proposta lhe deve ser apresentada ou traduzida em comandos simples, tal como: “Você não quer mais!”.

BLOQUEANDO O MAIS

O sábio Hilel revela algo importante: “mais” é uma intensidade e não uma qualidade. As qualidades são medidas de equilíbrio enquanto que as intensidades apontam o nível de atividade e magnitude que podem ter tanto efeitos positivos como negativos. Se produzir mais isso, terá que lidar com os efeitos de ter mais aquilo. Ou seja, na maioria das vezes o “mais” gera complexidades que dificultam o equilíbrio. A gíria moderna produziu um belo conselho às pessoas que estejam vivendo intensidades demasiadas: “Menos!”. Na verdade, “menos” é um santo remédio. (...)
Por último, o “menos” emblemático é a generosidade. Ser generoso é, em última instância, abdicar de “mais”. E quanto “menos” nesse sentido, mais paz. Portanto, a paz é uma função do “menos”, uma aplicação do “menos”. Só pode haver paz na contenção do desejo de “mais” já que ele é o epicentro da noção de carência que gera disputa e conflito.

PEDINDO COM A MENTE AMPLIADA

Outro lócus vulnerável da nossa Mente Estreita é a disposição por pedir. Demandar é algo próprio da vida. Todos precisam de algo ou alguém. (...)
Ninguém duvida de que a demanda e o pedir são intrínsecos à existência dos mortais. Essa responsabilidade de prover estas demandas recai sobre a natureza, o meio ambiente, a espécie, a tribo e a família. Pedir é realmente algo natural e próprio. Essa é a razão pela qual o “segredo” se concentra em estimular o pedido e é justamente aí que reside o perigo. O segredo entende equivocadamente o ser humano, ser pessoal, como transcendente. Pessoalmente não somos especiais. Só ocupamos esta posição quando anulamos o pessoal e vemos surgir em nós algo que é transpessoal. É claro que entender isso é difícil, razão pela qual existem tantos equívocos.
A Mente Estreita pede. Ela está formatada para não ter nenhum constrangimento nas suas demandas. Tudo que vem da Mente Estreita de forma pura, sem a intervenção de vírus invasores, é pertinente. Na verdade, a beleza da vida se expressa nas vontades e no querer que emanam da Mente Estreita. Nada mais belo do que os apetites que são as “tendas” mais arrebatadoras e a manifestação de qualquer “morada”. Os vírus, no entanto, atuam justamente aí. Fazem a Mente Estreita se perder na sedução do caminho e perder seu objetivo. Para a Mente Estreita infectada, tal como para um computador, não há erro de lógica e ela está pronta para comandar a si mesma na direção mais destrutiva possível.
A Mente Ampliada pode intervir neste momento e restaurar os arquivos principais da Mente Estreita. (...)

ASPECTOS QUÂNTICOS DO DESEJO

Sim, o pensamento humano produz o destino, mas não o destino do lado de fora. Trata-se do destino pelo qual vivenciamos internamente os acontecimentos e circunstâncias externas.
O grande equívoco do “segredo” é se preocupar em transformar o mundo para que este venha a convergir para o desejo do indivíduo. Já o sagrado tem outra interação com a vida. Ele não faz o contrário, ou seja, não tenta adequar o mundo interior ao exterior. Isso seria negar a legitimidade do desejo, seria fazer como muitas correntes religiosas que apregoam a necessidade de entrega total a uma Outra Vontade. Seria uma anulação do livre-arbítrio, da relação direta e livre entre a consciência e o mundo a sua volta.
O mundo não é relativo à vontade humana, e a vontade humana também não é relativa ao mundo. Qualquer uma dessas propostas banaliza a vida. Significaria a entrega desenfreada aos desejos a qualquer custo, ou a submissão plena a desígnios externos, ou seja, que entre os dois só pudesse haver uma relação de submissão. Porém, tanto os desejos internos como os externos são absolutos e aqui temos um importante ensinamento.
O Talmude é claro ao dizer que os “pensamentos” e não as vontades determinam o destino. Como lidamos com desejos, nossos pensamentos permitem que modifiquemos o destino. À medida que conseguimos manter nossos pensamentos livres da interferência de vírus e estabelecemos um lugar “separado”, sagrado, para nossos interesses pessoais, conseguimos encontrar a potência maior da autonomia e da grandeza humana. Estes pensamentos são a nossa Mente Ampliada e eles subvertem por completo a percepção que temos da realidade.

O VÍRUS DA PRODUTIVIDADE

A Mente Estreita reconhece que sua tarefa central é servir, não é esse o problema. A questão é a quem servir. A vulnerabilidade se estabelece nessa área da identidade. É aí que se produz um vírus especificamente engendrado para se acoplar a essa vulnerabilidade e ganhar forma como um interesse pessoal. E uma vez que a Mente Estreita reconheça no vírus desse interesse pessoal o sujeito a quem presta serviço, ela se entrega plena e incessantemente à tarefa para a qual foi desenhada, que é gratificá-lo. (...)
Nossa produtividade não é o fiel que determina quem está bem consigo e quem está mal. Quando isso acontece é um sinal importante para uma intervenção mais aguda em si mesmo. Não tente “produzir” mais. Não tente inventar outras formas idênticas de se viver, formas dissimuladas, maquiagem do mesmo. O sistema está comprometido.
O que fazer? Com certeza não tente buscar um segredo por aí. Aliás, os segredos e sua constituição viral estarão prontos para se amoldar a essa sua fraqueza. Até porque um sistema moribundo se torna presa fácil de outros ataques. E eles ocorrerão justamente contra a Mente Estreita, tentando produzir para ela “verdades” constituídas de “toques” que magicamente a colocarão de novo no topo de suas aspirações pessoais. Isso é tudo o que você não precisa.
A busca é pelo sagrado e não pelo segredo. A busca é por ativar sua Mente Ampliada para que ela reconheça a diferença entre serviço e produtividade. O primeiro, uma função transpessoal, o segundo, pessoal. O primeiro leva a uma bênção que nunca é pessoal, sempre mais uma identificação do que uma identidade, sempre mais o processo do que a chegada.

A PERVERSÃO DA REALIDADE

A capacidade humana de auto-engano é espantosa.
Nossos interesses pessoais conseguem perverter a realidade com tamanha sofisticação que raramente nos damos conta das forças que desfiguram evidências na tentativa de configurar o mundo ao nosso querer.
Um financista com grande experiência comentou que costuma ver seus subordinados comentarem “eu falei que tal e tal ação ia subir” ou que “tal e tal ação ia desvalorizar”. Ele se refere à capacidade que as pessoas têm de esquecer as inúmeras vezes que fizeram sugestões equivocadas. “As pessoas simplesmente não se lembram dos episódios que depõem contra suas pequenas teorias pessoais”, comentou. (...)
A famosa “boa estrela” de um indivíduo é sinal da intensidade da Lei da Tração. Essa percepção não é necessariamente algo negativo, podendo muitas vezes revelar o grau de vitalidade e de auto-estima de um indivíduo. Representa um parâmetro da atividade vital que em sua intensidade produz um turbilhão que nos coloca no centro e faz tudo convergir a esse lócus de vigor e veemência. O problema ocorre quando desejamos fazer deste efeito visual uma lei universal constituída de forças reais que conspirariam de fora para dentro. Não se trata de uma atração, mas de uma tração.
As ilusões são causadas por estas forças vitais tão essenciais à vida. E algum grau de ilusão estará sempre atrelado ao que é vivo. Um ser vivo que seja totalmente imparcial se fará indiferente a si mesmo, algo que é no mínimo perigoso e pode se mostrar destrutivo a um organismo. Mas tudo que é inteligente terá que se opor a sua tendência orgânica de se privilegiar. Justo será sempre aquele que é capaz de ir na contramão de seus interesses. Ninguém que se regre por seus interesses conseguirá ser reto e probo porque os interesses particulares não convergem para os interesses do todo. (...)
Esse olhar sem a Lei da Atração, reconhecendo a Lei da Tração, não é o mesmo que a racionalidade ou que a oposição ao misticismo e à espiritualidade. Essa é a grande confusão de nossos tempos: o que se opõe aos segredos não é a frieza, o cartesianismo insensível ou o ceticismo materialista, mas o próprio sagrado.
O sagrado é aquilo que sagra e confere verdadeiro valor ao que é detentor de mérito. Tudo o que conseguimos fazer, fugindo dessa força constante da Lei da Tração, se faz separado e distinguido. Tudo o que conseguimos colocar à parte de nossos interesses e corrupções é sagrado. E sem esse lugar apartado de nossas ilusões e adulterações sucumbimos ao desencontro subliminar e somos engolfados por vertigens.
Reconhecer essa terceira via entre segredos e racionalidades, entre excessos e carências de sensibilidade, é sempre difícil. No entanto, esta outra opção gera o sagrado em nossas vidas e sua lucidez espiritual que nos situa no universo sem ter que distorcê-lo de forma grosseira.

QUEM É SÁBIO?

Aquele que aprende de todos.
O desejo por um “segredo” que me faça conhecer a sabedoria é uma trilha equivocada. Diferente de um conhecimento que pode ser obtido e possuído, a sabedoria é uma atitude que busca aprender do outro. Ela não pode ser inferida ou deduzida, porque é decorrente da experiência e da troca com o outro.
A sabedoria reconhece relevos e sensibilidades que são próprios da pluralidade, dos diferentes indivíduos e coisas que compõem este universo. Ela abriga as diferenças e se identifica com as similaridades e assim se faz sábia. (...)
Só o outro pode nos instruir sobre as múltiplas facetas da vida. Por isso não devemos voltar nossa sensibilidade para um segredo que se arvore a encerrar em nós mesmos os mistérios. A resposta aos enigmas não está na informação, mas na interação com a informação, o que esta significa para o mundo em suas múltiplas possibilidades.
A tarefa do sábio não é ensinar, mas aprender.
A tarefa do sábio não é dominar, mas se render.
A tarefa do sábio é não fazer uso de seu conhecimento, mas se livrar dele.
A tarefa do sábio é enredar-se em perguntas, desvencilhar-se de respostas.
O saber é transitivo, um gerúndio permanente, nunca se cristalizando em passado. Então não há segredos, ou melhor, o segredo é que não há segredos. Isso porque como pode haver um segredo se quem o sabe é o outro, sempre o outro? Os segredos acabam por realizar o intento contrário de nosso desejo de conhecê-los – eles ocultam e interditam.

QUEM É PODEROSO?

Aquele que contém o seu ímpeto. Essa é uma questão importante no discernimento entre “segredo” e “sagrado”. A palavra “conter”, no sentido de dominar e sobrepujar, é em si o grande ímpeto humano. É isso que os segredos buscam e o final de todo o segredo não é a grandeza humana, a sua magia e a sua glória, mas a sua fragilidade e sua pequenez. (...)
Então, quem é poderoso entre os humanos? Aquele que sabe disso e controla o seu ímpeto de achar que exerce o controle. A prática de conter este ímpeto é a capacitação suprema de um ser humano. A incapacidade de conter este ímpeto se manifesta por meio da irritação. E a necessidade de um “segredo” para dar conta das adversidades da vida, por sua vez, é efeito desta irritação que se traduz pela impotência de que as coisas possam ser dominadas e expressas de acordo com sua vontade.
Quem necessita de segredos está tentando burlar a vida, corromper a estrutura de bênçãos desse universo. E aí as coisas não acontecerão como pretendemos. Como uma miragem, até acreditamos no início que as coisas sejam assim, mas trata-se apenas de uma armadilha. Uma cilada produzida pela possibilidade de delírios que nos fazem projetar para fora de nós os cenários de nossa imaginação. Podemos forçar a versão da eficiência destas alucinações, mas mais cedo ou mais tarde os segredos não darão conta da vida. A vida é sagrada. Algo tem que ser colocado à parte, sacrificado não como uma penitência ou um sadismo, mas como uma sujeição a um ímpeto que não é nosso. (...)
O ser humano não tem poder algum, com exceção da possibilidade de refrear seu ímpeto de achar que tem poder. Essa é a grandeza que percebemos como sagrada. O momento sagrado é quando nos colocamos à parte e negamos ser a fonte de poder do universo. E por ficarmos externos a esta fonte, nos fazemos incluídos nela. Nesta inclusão nos deleitamos com o sagrado que nos manteve separado, à parte, da fonte do poder. O segredo quer nos incluir por direito, por privilégio e por controle. O sagrado quer nos incluir pelo serviço, pela bênção e pela renúncia aos pleitos de poder.

QUEM É RICO?

Aquele que se satisfaz com o que tem.
Esta não é uma medida de quantidade, mas de qualidade. Não se refere a atitudes de conformismo ou de ganância, que são relativas á quantidade. O que se diz aqui é que a riqueza tem a ver com a capacidade de absorver, de usufruir, mais do que acumular e coletar. (...)
Satisfazer-se com o que se tem não significa deixar de almejar e esforçar-se para ter o que precisa. Porém, uma vez que os resultados desse esforço se consolidam, devemos gozá-los como verdadeiras riquezas, não caindo na tentação de compará-las com outras riquezas como é usual no campo do poder.
A experiência da riqueza depende da humildade, que é o sentimento de sermos criaturas, de sermos parte de algo à parte da fonte. (...)
O segredo, nesse sentido, estimula o desejo daquilo que falta. Não deixe de buscar tudo o que falta na sua vida, apregoa categoricamente. Sim, focalize em tudo que lhe falta e você estará gradativamente ficando mais pobre. (...)
Comenta o rabino Larry Kushner que os dois primeiros mandamentos são faces de uma mesma verdade. De um lado “Eu sou Deus”, do outro “Não deverás ter outros deuses diante de ti”. Como as chances maiores são de que esses “deuses” sejamos nós mesmos, é como se essa verdade estampasse de um lado “Eu sou Deus” e do outro “Você não é Deus”.
Este dizer da “boca” de Deus não é produzido nem por sede de autoridade nem por temor à competição, mas como um direcionamento fundamental para ajudar o ser humano em sua difícil caminhada pela vida. (...)
Contentar-se com o que se tem é a direção do enriquecimento.
Os segredos que estimulam desejos de proporções divinas diante de poderes tão ínfimos, empobrecem terrivelmente um indivíduo.

QUEM É RESPEITADO?

Aquele que respeita a todos.
O respeito, tal qual a sabedoria, o poder e a riqueza, são bênçãos e não brindes obtidos por privilégio. E como bênçãos são sempre de natureza relacional. Fica-se mais sábio aprendendo com o outro. Fica-se mais poderoso abdicando do poder sobre o outro ou sobre o mundo a nossa volta. Fica-se mais rico respeitando os limites impostos pelo mundo, onde a satisfação é uma medida entre um sujeito e as possibilidades a sua volta. E da mesma forma acontece com o respeito que só é conseguido por meio do respeito aos outros. (...)
Tal qual outros interesses humanos, o respeito não é uma aquisição que se retém em si, mas algo que emana do outro. Diferente do que nos faz crer nossa cultura, o que de mais importante existe para nós é retirado do espaço coletivo e de nossas interações. Tudo o que nós obtemos é por intermediação deste coletivo que propicia o acasalamento de potenciais e fornece bênçãos. Tentar driblar esta intermediação com pretensões de acesso direto, exclusivo e privilegiado, é abrir mão da vida em troca de milagres, coincidências ou mágicas.

EU? NÃO, TU!

O rabino Levi Itschak de Berdichev costumava cantarolar:
Por onde vá – Tu!
Por onde devaneio – Tu!
Apenas Tu, Tu novamente, sempre Tu!
Tu! Tu! Tu!
Quando estou feliz – Tu!
Quando estou triste – Tu!
Apenas Tu, Tu novamente, sempre Tu!
Tu! Tu! Tu!
Céu – Tu!
Terra – Tu!
No começo – Tu!
No final – Tu!
Apenas Tu, Tu novamente, sempre Tu!
Tu! Tu! Tu!
O rabino de Berdichev revela assim sua prática espiritual mais importante. Trata-se do escaneamento constante, incessante, da pasta principal onde os vírus costumam se alojar, no “Eu”, no coração de nossas percepções.
Poderíamos parafrasear cada uma das linhas de sua canção com a versão mais corriqueira e comum ao ser humano, algo como: “Eu, Eu e Eu! Para cima, Eu! Para baixo, Eu! No começo, Eu! No final, Eu! Apenas Eu, Eu novamente, sempre Eu!”
Este livro aborda alguns aspectos do perigo de trabalhar-se com uma referência tão facilmente distorcida por vírus e resíduos e que compromete o bom funcionamento de um sistema.
Não se trata de uma proposta moral ou religiosa de abnegação e altruísmo, mas verdadeiramente da preservação de nossa interação profícua com a vida. (...)
Toda vez que o “Eu” se apresentar de forma deturpada, os protocolos não se encaixarão e as passagens permanecerão fechadas. E o querer pessoal é quase sempre o código errado, a armadilha que não conseguirá efetuar a tarefa proposta de forma eficiente. É esta a sabedoria milenar que produziu toda a verdadeira espiritualidade. Seja ela a judaica e sua ênfase no sagrado e na ética, seja ela a cristã e sua ênfase no sagrado e no amor, seja ela a islâmica e sua ênfase no sagrado e no servir, seja ela budista e sua ênfase no sagrado e no desapego: todas visam libertar dos vírus do “Eu” e despertar para protocolos que viabilizem as bênçãos.
Em todas, o sagrado coloca à parte o pessoal e o sacrifica. Seja pelo sacrifício do pessoal pela ética, pelo amor, pelo serviço ou pelo desapego, todas reconhecem um eixo referencial que não é o “Eu”. Todas rompem com a primitiva tentativa de corromper Deus – leia-se, as vontades cósmicas que se impõe – para que Suas vontades coincidam com a nossa. Esse Deus corrompido que não existe é nada mais do que a projeção de nossos próprios vírus que tem como base o gênio, aquele que serve a seu amo numa inversão total da realidade.
NÓS SOMOS UM MEIO NÃO UM FIM
Essa não é uma má notícia. Assim como não é uma má notícia para a borboleta que ela não seja um ser humano, também não é uma má notícia para um ser humano que ele não é um Deus. Ser borboleta é atingir o máximo da sabedoria, do poder, da riqueza e da glória que lhe cabe. A qualidade de ser borboleta tem a mesma magnitude da qualidade de ser um ser humano. A qualidade de ser plenamente um humano tem a mesma magnitude de ser um Deus. Talvez nesse ato de ser borboleta ou de ser humano nos incorporemos a Deus.
É verdade que os humanos têm essa busca dificultada por sua consciência (muito desejo e pouco poder) que a todo instante intenta elevar o “Eu” à categoria de um fim e confunde a nossa satisfação com a satisfação de um Deus.
Nossa Mente Ampliada é o recurso para honrar a nós mesmos e ao mesmo tempo usufruir as bênçãos das quais está embebido o universo.
Essa é a tarefa difícil do ser humano: fazer-se acompanhar pela vida afora do senso de sagrado.
O sagrado nos exclui e conosco exclui também todos os nossos vírus. A Mente Ampliada nos ensina o caminho da modéstia, que é entender que o abençoado não será amaldiçoado e o amaldiçoado não será abençoado. E a modéstia nos leva à humildade. E a humildade nos leva à compaixão. E a compaixão nos leva à graça. E a graça nos leva ao despertar. E o despertar nos leva ao tão ambicionado bem-estar.
Salvar a si próprio e resgatar-se é sempre uma medida de se colocar à parte, de não se levar tão a sério, de não ser um fim. E essa prática se realiza ao se deletar todos os convites para segredos. Não os abra! Pode excluir. Nesse ato de excluí-los, você se fará incluído. E não será tirada de si a escuta dessa outra voz, desse Tu. Ela não coincidirá muitas vezes com sua voz interna e seu querer. E quando isso acontecer abra os olhos e não açoite a jumenta do seu destino.
A inexistência da mágica acentua a magia!
A independência em relação ao “Eu” embeleza tendas e moradas!
A liberdade de não ser especial inclui e desfaz solidões!

É O SAGRADO QUE É OCULTO, PARA SEMPRE

E por oculto não se entenda inacessível.
É que se tiramos tudo de nós mesmos, ainda assim seremos algo.
Se nos despirmos de todas as características e rótulos de nosso ser – nossos valores, nossa crença, nosso gênero e até nosso corpo – ainda assim permanece um algo muito especial. Alguns consideram isso a fagulha divina, o nó que entrelaça a existência e a não-existência.
Mas para conhecer esse oculto teríamos que abrir mão de ver, de ouvir ou de qualquer outra sensibilidade que fosse faculdade das coisas que renunciamos. Essa identidade profunda, essa essência, ninguém rouba de nós. E ninguém se apossa dela também.
Essa certeza de que somos especiais para além do caráter pessoal, na esfera transpessoal, pode nos liberar para uma vida de gratidão e graça. A festa quando é boa acontece em sua celebração e não nos brindes que dela podemos amealhar.
A lembrança desta intercessão que temos com o divino pode ser usufruída mesmo em sua natureza oculta. E todos os rituais de todas as tradições, quando refinados, têm como função evocar o oculto.
Prossegue o milenar esforço humano para se investir de sua maior nobreza que é a sua percepção do sagrado, distanciando-se do personagem caricato tão ávido por segredos. (...) Longe da mágica, do obscurantismo e da ilusão, íntimos da magia, da luz e do sonho de que possamos usufruir as bênçãos sobre nossas tendas e moradas, como expresso no texto bíblico:
Então tu e teus filhos e filhas viverão na Terra a promessa divina dada a teus antepassados de viver dias celestes aqui mesmo nesta terra!”



Um comentário:

  1. Magnífico e assustador essa leitura e ao mesmo tempo triste porque tiramos a viseira ao percebermos o sagrado e percebemos o quanto somos enganados.... o segredo encobre a nossa visão e o sagrado faz nos enxergamos a realidade...o segredo é a própria ilusão a mágica enganadora ...

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